quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Projeto de Pesquisa - Habitação de Interesse Social


(trabalho em processo)


Introdução

O intenso processo de metropolização brasileiro, acompanhado das características acima descritas, tem hoje, como resultado, um déficit avaliado em 7,2 milhões de moradias, onde 88,2% deste déficit correspondem a famílias com até 5 salários mínimos. Cerca de 70% da produção de habitação têm ocorrido fora do mercado formal, 4,6 milhões de domicílios estão vagos, essencialmente em áreas centrais de aglomerados urbanos, e 79% dos recursos do FGTS têm sido destinados à população com renda acima de 5 salários mínimos¹.

As políticas habitacionais não têm beneficiado os mais pobres, fato que evidencia a forte vinculação da produção de moradias com a expectativa de lucro das empresas, bancos e empreendedores envolvidos no processo de produção.

As propostas experimentais, como toda proposta de vanguarda, têm uma lenta assimilação na sociedade, portanto não espero que minha proposta seja bem recebida pelo mercado habitacional, mas que sirva como parte de um debate que, no longo prazo, com uma possível mudança no âmbito político, mercadológico e no da sociedade como um todo, essas idéias possam ser aproveitadas de alguma forma.

Objetivos

Pesquisar acerca da Habitação Popular no Brasil, e propor um exercício de projeto que contribua com o debate e a disseminação de práticas inovadoras e sustentáveis nos seus diversos aspectos, como por exemplo, a tecnologia construtiva e as espacialidades alternativas. Objetiva-se, com esse projeto, ir além do que é normalmente disseminado e aceito pelas instituições financiadoras dessas moradias populares.

Elaborar um projeto de habitação popular multifamiliar em um lote de dimensões comuns, como praticado no mercado atual, agregando qualidade espacial, conforto ambiental, e considerando os modos de morar da população-alvo, através de pesquisas em torno desse público.

Serão pesquisadas e propostas tecnologias de baixo custo e sustentáveis, em alternativa ao sistema hegemônico no Brasil, a alvenaria de tijolos. Além das técnicas de construção alternativas, serão pesquisadas tecnologias que servirão de base à flexibilização dos espaços, fator que constitui um dos elementos norteadores do trabalho.

Não serão desenvolvidas tipologias espaciais e tecnológicas para serem copiadas, mas práticas projetuais e alternativas de técnicas e materiais que serão disseminadas de forma a contribuir com a produção da habitação social no Brasil.

Será considerado um terreno-tipo em loteamento na cidade de Esperaldas-MG, o que se justifica pela possibilidade do projeto ser implantado futuramente, já que o mercado de habitação popular cresce bastante nessa cidade. Além disso, se verifica nesses loteamentos alguns padrões de construção que nem sempre (ou quase nunca) levam em conta as questões a serem tratadas neste projeto.

Problema

A habitação de interesse social nem sempre é feita com os pré-requisitos necessários a uma habitação de qualidade e conforme aos modos de morar do público-alvo.

Sobre o morador da metrópole do século XXI, podemos dizer que

seu habitante parece ser um indivíduo que vive, principalmente, sozinho, que se agrupa eventualmente em formatos familiares diversos, que se comunica à distância com as redes às quais pertence, que trabalha em casa mas exige equipamentos públicos para o encontro com o outro, que busca sua identidade através do contacto com a informação².

Portanto, a forma de morar do brasileiro das metrópoles segue diferentes configurações que não a da família nuclear tradicional, que vem perdendo espaço frente às mudanças em nossa sociedade. Os projetos habitacionais no Brasil (de interesse social ou não) não têm respondido satisfatoriamente a essas mudanças. Continuam sendo elaborados conforme o projeto da casa burguesa, com suas zonas ligadas a funções específicas e sem a possibilidade de mudanças a partir de novas solicitações dos usuários, a não ser mediante complicadas reformas.

Justificativa

Em tempos de “Minha Casa, Minha Vida”, o mercado de habitação popular ganhou novas dimensões, tornando a moradia mais acessível a uma faixa da população com menor poder aquisitivo.

O modelo ainda largamente utilizado é o da habitação burguesa, tripartida em Zonas Social, Íntima e de Serviço (ou zonas de prestígio, isolamento, e rejeição).

A concepção de moradias populares no Brasil tem sido fortemente determinada pelos princípios do modernismo europeu da primeira metade do século 20. Esses conceitos disseminados mundialmente acabaram inibindo os questionamentos sobre o assunto, e disseminando a fórmula da habitação-tipo. Isso porque o Movimento Moderno Europeu do entre - guerras revisou integralmente o desenho e a produção dos espaços de habitação, utilizando critérios específicos do que acreditavam ser o protótipo de habitação, de homem, de cidade e de paisagem. O arquétipo criado, o da habitação - para - todos, baseava-se numa concepção biológica do indivíduo. Esse arquétipo, combinado aos princípios da repartição burguesa oitocentista parisiense (casa definida por zonas Social, Íntima e de Serviço - ou zonas de prestígio, isolamento, e rejeição), destinado a abrigar a família nuclear, é que vem sendo repetido no mundo ocidental até os dias de hoje.

No que diz respeito aos materiais e técnicas construtivas, observamos que a maioria das moradias é construída utilizando-se alvenaria de tijolos, sendo que existem técnicas no Brasil, inclusive largamente utilizadas anteriormente à disseminação do uso do tijolo, como a taipa, que possui excelentes propriedades térmicas, além de ser sustentável. Essa e outras tecnologias ditas alternativas têm potencial de inserção no mercado, mediante disseminação e conscientização das partes envolvidas (público, construtores, financiadores, governo, etc.).

Notas

[1] Marcelo Tramontano; “Habitação, hábitos e Habitantes: Tendências contemporâneas metropolitanas”

[2] MINISTÉRIO DAS CIDADES. Cadernos MCidades. Política Nacional de Habitação n. 4, 2004. Os dados são do ano 2000.

Fontes

http://www.nomads.usp.br/documentos/arquitetura/001/001_002aval_tex.htm

http://www.nomads.usp.br/pesquisas/espacos_morar_modos_vida/concretos/apto_metropolitano_contemporaneo/Michele_leitura_unidades.htm

http://www.arcoweb.com.br/artigos/marcelo-tramontano-habitacao-unidades-01-05-2000.html

http://143.107.226.210/documentos/arquitetura/001/001_002_cdf.htm

http://novasformasdemorar.blogspot.com/