quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Arquitetura Livre, Projeto Contínuo e Copyleft na arquitetura

Este texto partiu de considerações sobre o texto de Silke Kapp e Ana Paula Baltazar dos Santos, intitulado Arquitetura Livre, Projeto Contínuo.

Kapp e Baltazar dos Santos levantam a questão da autoria no projeto arquitetônico, lembrando que a primeira patente foi criada por Fillipo Brunelleschi, pelo projeto de um navio, em 1421. Daí surge a identificação da arquitetura como trabalho autoral de caráter intelectual, isto é, não resulta em construções, mas desenhos de arquitetura.

A produção do projeto arquitetônico cristalizou-se de forma a dividir o processo em demanda, projeto, construção e uso, em que o arquiteto detém a autoridade intelectual de todo o processo, se tornando o separador das várias etapas, e de aglutinador, através desse documento legitimador da organização nos canteiros de obra.

Os autores do texto denunciam o atrofiamento verificado na fase de entrega da obra para o uso, devido às limitações causadas por essa forma de produção. Os acontecimentos que escapam a essa lógica são vistos como ruídos, já que o arquiteto não os previu, e vê nisso um risco em relação a seu poder de decisão, que, afinal de contas, é remunerada.

Por outro lado, o texto aponta para uma produção aberta a “interferências”, que corre em paralelo a essa outra hegemônica, com princípios éticos semelhantes aos dos softwares livres. E lembra que essa produção nada tem de novo; basta olhar para qualquer favela brasileira, territórios onde a regra é a construção das moradias por seus próprios habitantes. Claro que nesse caso a lógica é invertida, já que seria desejável que essa produção fosse assessorada por profissionais.

Produção livre:

Um exemplo de inclusão dos usuários na produção é de autoria do arquiteto holandês Gerrit Rietveld (1888-1964). Sua produção de móveis foi feita nos moldes do do-it-yourself, e até hoje tem sua reprodução e modificação liberados.

O caráter autoritário potencializado no segundo pós-guerra influenciou a produção de Yona Friedman, que experimenta a elaboração de projetos habitacionais por seus moradores. A “arquitetura móvel” preconizada por ela é destinada à mobilidade social dos habilitantes a partir da possibilidade da reorganização contínua do espaço arquitetônico, privado e urbano. A metáfora da curva que representa a velocidade, a dimensão temporal, destinada à contemplação na arquitetura espetacular e escultural é rechaçada por Friedman, em defesa dessa nova forma de se lidar a questão do tempo/espaço, isto é, defesa da mobilidade, defesa da cidade criada para as pessoas, para organizações sociais em constante mutação. Questão muito oportuna em tempos de centenário de Oscar Niemeyer, novo centro administrativo em Belo Horizonte (não consigo me lembrar de exemplo mais evidente de arquitetura excludente, tanto pela localização quanto pelo projeto em si) e Frank Gerry.

Os autores do texto defendem, de forma bastante oportuna, a instituição do copyleft dos produtos advindos da arquitetura, o que permitiria a livre modificação dos desenhos e dos espaços, sem que nada seja apropriado autoralmente, para fins de mercado. Isto porque a figura do arquiteto deseja manter para si o poder de decisão, sem que de fato isso seja possível, dados os “ruídos” e “interferências” que acontecem durante e após o processo de produção, que não passam de uma constatação da flexibilidade inerente ao ser humano e aos processos sociais.



Spatial city – crítica da forma convencional de expansão urbana excludente e proposição de uma superestrutura que permitiria uma expansão sem ruptura entre centro e subúrbio.




Centro Administrativo de Minas Gerais – Ex prefeito de BH, Fernando Pimentel e (???).
Arquitetura excludente – saída da sede do poder do coração da cidade para um local inacessível e nada convidativo às manifestações populares.



A amplidão do entorno e a atmosfera privativa do projeto abafariam a voz de possíveis manifestantes e desencorajariam a permanência das pessoas.


La Meme, Lucine Kroll (1970-78)
Grupos de estudantes participaram do processo, e Kroll só começou os desenhos quando todos os conflitos estavam resolvidos.










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